Kissing Coppers |
Uma das mais famosas e reconhecíveis obras de Banksy, o mural
com dois polícias britânicos que se beijam, foi vendida por 418 mil euros na
terça-feira num leilão em Miami. Kissing
Coppers, pintada com spray na parede de um pub em Brighton há uma década,
foi comprada numa venda da Fine Arts Auctions em que suplantou peças de
Basquiat e Keith Harring e na qual foi visível o magnetismo actual da street art para os coleccionadores.
“O potencial deste mercado é
incrível”, disse à Reuters Frederic Thut. director da leiloeira de Miami.
“Estive na primeira venda de pop art e foram exactamente as mesmas pessoas a
surgir do nada e a comprar imediamente”, descreveu. O interesse crescente dos
coleccionadores pela arte de rua faz-se notar na última década, assinala a agência
noticiosa, e Thut atribui esse potencial desta franja do mercado da arte ao
desejo dos mais jovens, que “querem ter uma mensagem, um diálogo” na sua forma
de expressão.
O stencil a preto e branco Kissing
Coppers foi comprado
por um coleccionador não-identificado pelo telefone e é apenas mais uma das
obras de Banksy, o artista britânico cuja identidade é desconhecida desde a sua
emergência na cena graffiti no início da década de 1990, a ser vendida por um
preço significativo em leilão – o mural do beijo dos polícias foi vendido por
349 mil euros, licitação à qual acrescem 69 mil euros em taxas. Neste leilão de street art, foram também à praça Bandaged
Heart Balloon e Crazy
Horse Car Door, murais de Banksy criados no ano passado durante a residência do artista em Nova Iorque,
mas nenhuma das duas atingiu o preço mínimo de licitação e por isso não foram
vendidas.
As três peças foram postas à venda
por um coleccionador anónimo e não pelo tradicional negociante de peças de
Banksy, o galerista nova-iorquino Stephan Keszler, disse Thut. Mas o Wall
Street Journal conta
que Bandaged Heart Balloon – ou o pedaço de parede onde foi
pintado - foi vendido pelos donos do edifício de Brooklyn em que Banksy o
plasmou a Stephan Keszler pouco depois de ter sido detectado, em Outubro de
2013. No ano passado, Keszler levou a leilão a também icónica peça de Banksy Slave
Labour, em que um rapaz ajoelhado costura à máquina a bandeira do
Reino Unido, que atingiu o preço
de 800 mil euros em Londres.
Esta última obra chegou a estar
prevista para um leilão da mesma Fine Arts Auctions de Miami, mas a polémica em torno da legítima propriedade
da peça e a contestação da população de Wood Green, de cujas paredes Slave
Labourfoi extraída, impediu na altura essa venda. No caso de Kissing
Coppers, que morava no exterior do pub Prince Albert, o original
agora vendido foi substituído por uma réplica coberta por uma placa de acrílico
em 2011.
Stephan Keszler invoca também a
frescura do trabalho dos street artists para justificar o seu apelo junto dos
coleccionadores de arte: “É novo, é mais divertido, é mais jovem, é mais
democrático”. Sebastien Laboureau, consultor especialista em street
art, acredita também que há “um volume crescente de coleccionadores
que agora têm comprado street art” e põe a tónica no factor
democrático: “é arte muito tópica, é arte que diz algo a toda a gente e é parte
do mundo em que vivemos”, disse ao Wall Street Journal.
Mas do que o fenómeno de popularidade
da venda de arte de rua não se livra é da eterna questão sobre se é legítimo
retirar estas obras do seu habitatnatural e da constatação de que
não são os autores das peças a receber dividendos pelo seu trabalho saído
directamente da rua. RJ Rushmore, responsável pelo blogue de arte de rua
Vandalog, assinalou à Reuters que os compradores destas pinturas, stencils,
murais ou colagens, “cortando-as das paredes e pondo-as nas suas casas não
percebem que só têm uma peça dopuzzle”.