Exposição no Museu da Electricidade | POVOpeople

"O que é o povo?" é a pergunta a que pretende responder a exposição POVOpeople que abre a 19, no Museu da Electricidade, em Lisboa 



O Regicídio, por Paula Rego

"Tentámos responder à pergunta 'o que é o povo?' Quisemos dar um contributo significativo quer para a biografia, quer para a iconografia da palavra", explica ao JL, José Manuel dos Santos, director cultural da Fundação EDP e comissário da exposição POVOpeople, que se inaugura a 19, no Museu da Electricidade em Lisboa, prolongando-se até 19 de Setembro. "A palavra povo tem em si mesma uma contradição. Quando se trata do sujeito político ninguém se quer excluir dele, mas socialmente ninguém quer pertencer-lhe porque o termo é sinónimo de pobreza, que passou a ter a conotação dos falhados", refere ainda o coordenador, que partilha a organização da mostra com João Pinharanda (comissário artístico), José Neves (comissário científico) e Diana Andringa (comissária para o audiovisual).
Dividida por temas - retratos, política, trabalho, habitação, sociedade e consumo - a exposição segue uma cronologia que se inicia na Grécia do sec. V a. C, e termina nos recentes tumultos no mesmo país. "Nunca poderia ser uma mostra exaustiva. Fizemos escolhas assumidas quer em relação às obras apresentadas, quer em relação ao percurso que estabelecemos. Nesse sentido, não se trata de uma proposta isenta de polémica. O nosso objectivo é pormos as pessoas a reflectirem sobre si mesmas e a interrogarem-se", acrescenta José Manuel dos Santos.  Dois quadros de Paula Rego, nunca antes apresentados em exposição, feitos nos anos 50, da colecção pessoal da pintora - A Comida e O Regicídio (na imagem) - compõem o acervo da mostra de que fazem parte obras de Almada Negreiros, Vieira da Silva, Rafael Bordalo Pinheiro, Nuno Cera, Joana Vasconcelos, Eduardo Nery, entre outros. Arquivos de som e imagem, pinturas, esculturas, desenhos, fotografias, vídeos e filmes, textos literários, memórias e testemunhos populares e eruditos constituem o espólio apresentado.
Para além do catálogo da exposição são editadas três obras (em parceria com a editora Tinta da China): Como se faz um povo, um conjunto de ensaios originais de investigadores como Silvina Rodrigues Lopes, Vítor Pavão dos Santos, Eduardo Cintra Torres, entre outros, acerca das práticas e representações populares. A coordenação é do historiador José Neves; A política dos muitos: povo, classes, multidão, uma antologia de textos teóricos de autores universais como Michel Foucault, entre outros, sobre o tema dos sujeitos colectivos; e O que é o povo? Respondem... Jorge Sampaio, Adriano Moreira, Aníbal Cavaco Silva, Jerónimo de Sousa, Isabel do Carmo, Eduardo Lourenço, Maria Teresa Horta, Mário Soares, entre muitos outros são alguns dos vários políticos, artistas e escritores inquiridos. A arquitectura do espaço da exposição foi desenhada por um colectivo de jovens arquitectos e designers: Pedro Louro, Rita João, Gonçalo Prudêncio e Pedro Ferreira.