'Vénus' de Velásquez é a nova celebridade do Museu do Prado


La Vénus del Espejo.
Não se conhece a data exacta em que foi pintado, nem a identidade da mulher que serviu de modelo a Velázquez (1599-1660), mas o mistério foi útil para aumentar a fama e a importância da mais recente celebridade do Museu do Prado - La Vénus del Espejo.
Há cerca de mês e meio a entrada do edifício parecia a de uma sala de cinema antes da estreia de mais um episódio da Guerra das Estrelas. Tratava-se do primeiro dia em que a ampliação do Prado se encontrava aberta ao público, depois da cerimónia oficial na data do 188.º aniversário do do museu. Nos primeiros cinco dias, bateram-se todos os anteriores recordes de bilheteira, com cem mil visitantes. E apostando nesta nova era, que conta com mais 16 mil metros quadrados de museu, a direcção inaugurou, a 20 de Novembro, a exposição Fábulas de Velázquez, Mitologia y História Sagrada del Siglo de Oro, onde La Vénus del Espejo aparece como principal protagonista. Tal como acontece com Guernica, no Museu Rainha Sofia, a barreira de admiradores diante da Vénus quase impossibilita que se possa apreciar o génio do pintor sevilhano.
Dos 28 quadros de Velasquez que compõem esta exposição, que mostra a faceta do pintor como cronista da História, o museu, a comunicação social e o público escolheram La Vénus como a estrela da companhia. Trata-se de uma obra de óleo sobre tela, de dimensões médias, 1,22 m por 1,77 m, em que uma mulher de costas, deitada, admira a sua própria cara num espelho que se encontra nas mãos de um Cupido.
Não são apenas as qualidades artísticas e técnicas do pintor que deslumbram os espectadores. O mistério faz parte do fascínio. Sabe-se onde foi pintado, em Itália, mas nunca se descobriu a identidade da mulher no quadro. Há duas hipóteses - ou se trata de uma pintora italiana que serviu de modelo a Velázquez na segunda vez que este passou por Roma, Lavinia Triunfi, ou da amante do pintor naquela cidade, de quem teve um filho. O facto de o rosto da mulher, no espelho, não ter grande definição, só serve para aumentar o enigma. Trata-se ainda do único nu da autoria do pintor que terá sobrevivido até hoje, e do primeiro nu de toda a história da pintura espanhola - só a proximidade de Velázquez ao rei lhe permitiu tal insolência.
La Vénus del Espejo apareceu inventariada, pela primeira vez, na colecção de um sobrinho do duque de Olivares em 1651, o que indica que o quadro foi produzido antes desse ano, mas sem data concreta. A obra passou pelas paredes de diferentes famílias aristocratas espanholas, até que em 1808 chegou a Inglaterra, comprado por 500 libras por um coleccionador privado. Cento e dois anos mais tarde, seria adquirido por 45 mil libras, pela National Gallery, sendo ainda hoje propriedade do museu londrino.