O que vemos nós quando olhamos para as coisas? - JCJ Vanderheyden


JCJ Vanderheyden faz retrospectiva em Lisboa com 40 anos de trabalho

É preciso olhar com atenção para estas obras. Detectar as nuances de cor nas pinturas, procurar os pequenos pormenores que dão coerência aos grandes painéis, reparar como, afinal, todos estes trabalhos se relacionam uns com os outros - apesar dos anos que os separam, ou, propositadamente, por isso mesmo. Só o título da exposição diz tudo: A Analogia do Olho. São os fenómenos da luz e o modo como os apreendemos que, em última análise, constituem a matéria--prima do artista holandês JCJ Vanderheyden, que se apresenta na Culturgest, em Lisboa.
Aos 80 anos, JCJ Vanderheyden define-se como um "fazedor de imagens". "Comecei pelo filme e pelo vídeo, passei à pintura e à fotografia, depois às cabines negras onde fazia experiências de câmara obscura e câmara lucida. Cheguei a montar uma delas no meu terraço, fiz-lhe um buraco e nele projectei a catedral da minha cidade virada ao contrário", contou ontem ao DN, durante a montagem da primeira retrospectiva que faz fora do seu país.
"Todo este jogo tem a ver com o fascínio do artista pelos dispositivos de reflexão e reprodução, sejam espelhos ou monitores de vídeo", acrescentaria Miguel Wandschneider, o curador. Iniciado em meados da década de 60,o percurso de Vanderheyden partiu das questões levantadas pela organização do espaço pictórico e pela recuperação das vanguardas históricas (com Mondrian ou Malevich citados abertamente) para chegar a uma espécie de projecção do espectador na própria obra. Pelo meio, há todo um trabalho de pesquisa alicerçado na ideia de horizonte e na reprodução de paisagens captadas a partir de janelas de aviões.