Renascimento | M5

A Cultura do Palácio  | A Época Moderna

 
Recuperada das fomes, das pestes e das guerras que a assombravam no termo da Idade Média, a Europa prepara-se para uma nova vida. Desde 1450, arranque da Época Moderna, assiste-se a um notável dinamismo civilizacional no Ocidente que, de forma irreversível, se afirma e deixa na sombra as civilizações chinesa e árabe.
A cargo dos povos ibéricos, a abertura ao Mundo estava em marcha e concretizar-se-ia com a descoberta das rotas do Cabo e das Américas. O encontro de civilizações desconhecidas haveria, em breve, de unir a grande família humana, mas também de abalar crenças e provocar rupturas. Entretanto, as curvas demográficas dispararam, as cidades reanimaram-se, nelas elites burguesas e aristocráticas faziam fortunas.
Os inventos sucediam-se uns aos outros, as navegações oceânicas suscitavam a revolução das técnicas náuticas e os progressos da cartografia. O uso da pólvora e das armas de fogo transformava a arte da guerra e ditava a supremacia dos Europeus nos mares e em terra. Também a imprensa – melhor dizendo, os caracteres metálicos e a prensa de impressão pelo alemão Gutenberg disseminaram-se pela Europa e pelo Mundo, tornando-se num poderoso veículo de expressão cultural, de intercâmbio de ideias e de difusão de notícias. Os séculos XV e XVI foram, de um modo geral, um tempo de façanhas mecânicas, em que o génio inventivo dos engenheiros se manifestou. Novidades como o relógio de bolso, os espelhos, os óculos, os microscópios, as vidraças, a malha de seda, o garfo, a cadeira de costas e o violino são indicadores de conforto material, bem-estar e requinte de uma sociedade que, ao Homem medieval, teria parecido absolutamente estranha.

Renascimento


É no contexto atrás descrito que o Renascimento eclode e se expande. Este termo foi utilizado pela primeira vez pelo pintor e escultor italiano Giorgio Vasari para designar, a partir do século XV, um ressurgimento da literatura e das artes baseado nas obras e nos autores da Antiguidade. De facto, das letras, às artes e às ciências esteve-se perante uma renovação cultural que, invocando o legado greco-latino marcaria, de forma indelével, a história da Europa nos séculos XV e XVI.

O Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci

Antes de mais, descobriu-se o homem, como criatura boa, livre e responsável, feita medida de todas as coisas. Ele foi o protagonista do movimento humanista, que combinou a erudição clássica com a pureza das Escrituras e a moral do cristianismo.

Também na arte a Antiguidade Clássica foi mestra. Os seus temas e estilos, os seus cânones, até o nu, foram retomadas pelos artistas de Quatrocentos e Quinhentos, que os souberam fundir com tradições locais.

A extraordinária capacidade de intervenção cultural do Homem renascentista repercutir-se-ia, finalmente, na investigação científica. É verdade que neste campo, os clássicos já não merecem total aprovação. Mas, apesar de as suas verdades terem sido revistas, o certo é que o seu espírito crítico e racional nortearia os sábios do Renascimento na pesquisa e na descoberta dos segredos da Natureza e do Universo.


Célia Pinto do Couto, O Tempo da História, Porto, Porto Editora, 2003






OS CAMINHOS ABERTOS PELO RENASCIMENTO:
ANTROPOCENTRISMO E CLASSICISMO

 
A produção cultural do Renascimento reflecte a mentalidade antropocêntrica da época. Tem o homem no centro das suas próprias preocupações, considerando-o um ser bom e responsável, inclinado para o Bem e para a Perfeição.

Estes princípios estão presentes no Humanismo, que é a faceta literária do Renascimento. Os seus protagonistas são conhecidos pelo nome de humanistas e foram os intelectuais da altura. A poesia, a história, o teatro e a filosofia, constituíram os seus domínios de eleição.
A Pico della Mirandola, humanista florentino, pertence uma das mais belas páginas escritas sobre a dignidade/excelência do Homem. Segundo Pico, esta deve-se à sua liberdade (livre arbítrio): o Homem é o único ser da Natureza dotado de Razão, o único que se faz a si próprio, que autodetermina a sua conduta, que escolhe a sua missão.
Convicto de todos os seus valores, o Homem do Renascimento, foi o Homem total, com vastos a abrangentes conhecimentos, dominando temáticas que iam desde a formação científica à literária: escritor, político, arquitecto, escultor, pintor, etc., não houve engenho que tenha faltado a este Homem, que numa perspectiva integradora, conseguiu dominar uma vasta gama de conhecimentos.

O melhor exemplo de todos é sem dúvida Leonardo da Vinci, intelectual que dominava as mais diversas áreas do saber, os seus conhecimentos iam da medicina, à pintura, passando pela engenharia e ainda pela botânica. Este é o verdadeiro exemplo do eclectismo que convinha ao homem do Renascimento, que não possuía apenas sapiência sobre uma disciplina, mas sim, sobre todos os ramos do conhecimento, estamos, efectivamente, na presença do homem completo, do homem total.


Célia Pinto do Couto, O Tempo da História, Porto, Porto Editora, 2003


O ANTROPOCENTRISMO RENASCENTISTA

 
O Sumo Pai, Deus Arquitecto, tinha construído, segundo as leis de arcana sabedoria, este lugar no mundo (…). Desejava que houvesse alguém capaz de compreender a razão de uma obra tão grande, que amasse a beleza e admirasse a sua grandeza. Por isso, (…) pensou por último criar o homem. (…) tomou o homem como obra de natureza indefinida e, colocando-o no meio do mundo, falou-lhe deste modo:


“Nós não te demos nem lugar preciso, nem forma que te seja própria, nem função particular, ó Adão, para que segundo os teus desejos e discernimento, possas tomar o lugar, a forma e as funções que desejares (…). Tu, que nenhum limite constrange, de acordo com a livre vontade que colocámos nas tuas mãos, decidirás dos próprios limites da tua natureza. Colocámos-te no centro do mundo para que daí possas observar facilmente as coisas. Não te fizemos nem celeste, nem terreno, nem imortal, nem mortal, para que, por teu livre arbítrio, como se fosses o criador do teu próprio modelo, tu possas escolher e modelar-te da forma que preferires. Poderás degenerar até aos seres que são as bestas, poderás regenerar-te até às realidades superiores que são divinas, por decisão do teu ânimo.


Ó suma liberdade de Deus pai, ó suma admirável felicidade do homem! Ao qual é concedido obter o que deseja, ser aquilo que quer.


Pico della Mirandola, Discurso sobre a Dignidade do Homem, Lisboa, Edições 70




CLASSICISMO

Eclesiásticos e professores universitários na sua maioria, os humanistas, intelectuais de então que procuravam conciliar o legado greco-romano com os valores morais do Cristianismo, repudiavam fortemente os valores e a produção cultural da Idade Média. Pelo contrário, valorizavam a Antiguidade Clássica, em cujos textos e autores consideravam estarem contidas a verdadeira Sabedoria e Beleza.
A erudição humanista começou por se distinguir na procura entusiasta de manuscritos clássicos, no aperfeiçoamento da língua latina e na aprendizagem do grego e do hebreu. Viajantes incansáveis, os humanistas percorreram bibliotecas e mosteiros, onde recuperaram textos de grande valor poético, histórico, filosófico e científico. Atitude igual tiveram: arquitectos, pintores e escultores que também olharam para os modelos clássicos com admiração e grande contemplação, copiando os seus exemplos e criando uma arte renascida. (…)
Prensa de Gutemberg
 O latim foi a língua da comunicação entre os humanistas, estando na origem da criação de uma autêntica república das letras. Na correspondência, que entre si trocavam, não deixavam de expressar ideias concretas sobre o mundo, realçando sempre a dignidade do homem. Insurgiam-se contra as traduções e as interpretações erradas que a Idade Média fizera dos autores clássicos e da própria Bíblia. Gramáticos e filólogos puristas antes de mais, os humanistas deram provas de um espírito crítico notável, ao analisarem os textos antigos. E, penetrando no âmago do pensamento clássico e dos textos religiosos, procuraram absorver os valores antropocêntricos da Antiguidade e restaurar também a pureza original e a missão espiritual da Igreja. Com os humanistas, efectivamente, as artes antigas renasceram.


Célia Pinto do Couto, O Tempo da História, Porto, Porto Editora, 2003



ESTATUTO DE PRESTÍGIO DOS INTELECTUAIS E ARTISTAS – O MECENATO

O Renascimento admirou profundamente a força criadora do homem, que se elevava à perfeição divina pelas obras do pensamento.


Especialmente acarinhados e reconhecidos foram os intelectuais e os artistas. Mereceram elogios sem fim e a protecção dos grandes. O humanista Lourenço Valla foi considerado “brilhante”, Erasmo foi cognominado de príncipe das letras, enquanto Leonardo da Vinci mereceu a qualificação de admirável e celeste, já Miguel Ângelo foi alvo de uma espécie de culto após a morte.
Elites cortesãs, príncipes, monarcas e papas rivalizaram entre si nas honras a prodigalizar aos intelectuais e aos artistas. Trata-se do mecenato, prática que podemos fazer recuar ao mundo greco-romano e que, no contexto do Renascimento, nos elucida sobre a promoção do individualismo.
Por um lado, os mecenas garantiam a sua fama e glória, não só através das grandiosas obras que patrocinavam: palácios, estátuas, túmulos, retratos, etc., mas também graças a uma orientação da opinião pública, inteligentemente praticada pelos humanistas protegidos. Empregues como bibliotecários, professores, oradores, historiadores e diplomatas, cabia-lhes a justificação ideológica do poder que os sustentava.
Por outro, artistas e intelectuais obtinham, a par da abastança e do desafogo matérias proporcionados pelos seus postos de trabalho, um reconhecimento dos seus méritos e talentos, que os elevava também aos cumes da glória. Eram-lhes concedidas dignidades e posições cimeiras; toleravam-lhes temperamentos difíceis; cada vez mais o estatuto de artista substituía o de artífice. Particularmente elucidativa da consideração devida aos artistas é a frase de Cosme de Médicis: “Temos de tratar estas pessoas de génio extraordinário como se elas fossem espíritos celestes e não como bestas de carga”.

Lourenço de Medicis por Vasari
Aos Médicis coube, precisamente, um dos mais famosos mecenatos do Renascimento. Para eles trabalharam, entre outros, Filippo Lippi, Brunelleschi, Donatello, Boticelli, Leonardo da Vinci, Miguel Ângelo. Lourenço, o Magnífico, membro da família Médicis, foi também o protector de Marsílio Ficino, o mesmo é dizer dos estudos helenísticos fomentados pela Academia de Florença. Ao mecenato de burgueses, príncipes e papas se deveu, em grande parte, o florescimento artístico e intelectual da Itália do Renascimento.


Célia Pinto do Couto, O Tempo da História, Porto, Porto Editora, 2003


Durante os séculos XV e XVI intensificou-se, na Europa, a produção artística e científica. Esse período ficou conhecido como Renascimento ou Renascença.


Contexto Histórico

As conquistas marítimas e o contacto mercantil com a Ásia ampliaram o comércio e a diversificação dos produtos de consumo na Europa a partir do século XV. Com o aumento do comércio, principalmente com o Oriente, muitos comerciantes europeus fizeram riquezas e acumularam fortunas. Com isso, eles dispunham de condições financeiras para investir na produção artística de escultores, pintores, músicos, arquitectos, escritores, etc.
Os governantes europeus e o clero passaram a dar protecção e ajuda financeira aos artistas e intelectuais da época. Essa ajuda, conhecida como mecenato, tinha por objectivo fazer com que esses mecenas (governantes e burgueses) se tornassem mais populares entre as populações das regiões onde actuavam. Neste período, era muito comum as famílias nobres encomendarem pinturas (retratos) e esculturas junto aos artistas.
Foi na Península Itálica que o comércio mais se desenvolveu neste período, dando origem a uma grande quantidade de locais de produção artística. Cidades como, por exemplo, Veneza, Florença e Génova tiveram um expressivo movimento artístico e intelectual. Por este motivo, a Itália passou a ser conhecida como o berço do Renascimento.


Características Principais:
 - Valorização da cultura greco-romana. Para os artistas da época renascentista, os gregos e romanos possuíam uma visão completa e humana da natureza, ao contrário dos homens medievais;

- As qualidades mais valorizadas no ser humano passaram a ser a inteligência, o conhecimento e o dom artístico;
- Enquanto na Idade Média a vida do homem devia estar centrada em Deus ( teocentrismo ), nos séculos XV e XVI o homem passa a ser o principal personagem (antropocentrismo);
- A razão e a natureza passam a ser valorizadas com grande intensidade. O homem renascentista, principalmente os cientistas, passam a utilizar métodos experimentais e de observação da natureza e universo.


Durante os séculos XIV e XV, as cidades italianas como, por exemplo, Génova, Veneza e Florença, passaram a acumular grandes riquezas provenientes do comércio. Estes ricos comerciantes, conhecidos como mecenas, começaram a investir nas artes, aumentando assim o desenvolvimento artístico e cultural. Por isso, a Itália é conhecida como o berço do Renascentismo. Porém, este movimento cultural não se limitou à Península Itálica. Espalhou-se para outros países europeus como, por exemplo, Inglaterra, Espanha, Portugal, França, Polónia e Países Baixos.


Mona Lisa de Leonardo da Vinci: uma das obras de arte mais conhecidas do Renascimento


Principais representantes do Renascimento Italiano e suas principais obras:


- Giotto di Bondone (1266-1337) - pintor e arquitecto italiano. Um dos precursores do Renascimento. Obras principais: O Beijo de Judas, A Lamentação e Julgamento Final.







- Michelangelo Buonarroti (1475-1564)- destacou-se em arquitetura, pintura e escultura. Obras principais: Davi, Pietá, Moisés, pinturas da Capela Sistina (Juízo Final é a mais conhecida).






- Rafael Sanzio (1483-1520) - pintou várias madonas (representações da Virgem Maria com o menino Jesus).




Leonardo Da Vinci e o Homem Vitruviano


- Leonardo da Vinci (1452-1519)- pintor, escultor, cientista, engenheiro, físico, escritor, etc. Obras principais: Mona Lisa, Última Ceia.

Ultima Ceia de Leonardo da Vinci


- Sandro Botticelli - (1445-1510)- pintor italiano, abordou temas mitológicos e religiosos. Obras principais: O nascimento de Vénus e Primavera.


- Tintoretto - (1518-1594) - importante pintor veneziano da fase final do Renascimento. Obras principais: Paraíso e Última Ceia.


- Veronese - (1528-1588) - nascido em Verona, foi um importante pintor maneirista do Renascimento Italiano. Obras principais: A batalha de Lepanto e São Jerônimo no Deserto.


Renascimento Científico


Na área científica podemos mencionar a importância dos estudos de astronomia do polaco Nicolau Copérnico. Este defendeu a revolucionária ideia do heliocentrismo (teoria que defendia que o Sol estava no centro do sistema solar). Copérnico também estudou os movimentos das estrelas.






Galileu Galileu: um dos principais representantes do Renascimento Científico


Nesta mesma área, o italiano Galileu Galilei desenvolveu instrumentos ópticos, além de construir telescópios para aprimorar o estudo celeste. Este cientista também defendeu a ideia de que a Terra girava em torno do Sol. Este motivo fez com que Galileu fosse perseguido, preso e condenado pela Inquisição da Igreja Católica, que considerava esta ideia como sendo uma heresia. Galileu teve que desmentir suas ideias para fugir da fogueira.


A invenção da prensa móvel, feita pelo inventor alemão Guttenberg em 1439, revolucionou o sistema de produção de livros no século XV. Com este sistema, que substituiu o método manuscrito, os livros passaram a ser feitos de forma mais rápida e barata. A invenção foi de extrema importância para o aumento da circulação de conhecimentos e ideias no Renascimento.